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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Bomba relógio

A promessa de resultados rápidos vem estimulando no Brasil o consumo de anabolizantes. Mas, por trás dos benefícios aparentes, essas substâncias escondem riscos que podem detonar seu corpo. E até matar





A CONVERSA ACONTECEU NA SALA DE MUSCULAÇÃO DE UMA ACADEMIA EM SÃO PAULO. Faltavam três semanas para o Carnaval e o aluno dizia ao professor que queria tomar logo. "Eu não cresço!", protestava. Tinha pouco mais de 20 anos e não era pequeno. O peso que puxava na rosca direta tinha 18 quilos. O professor tentava convencê-lo a não começar naquele momento, porque o jovem avisava que beberia muita cerveja no Carnaval. "Nem pensar. Se você for tomar não pode beber álcool", explicava. O aluno retrucou com uma pergunta: "Mas de que adianta chegar lá no meio das meninas todo grandão e não poder beber?". A pergunta fi cou sem resposta do professor, que precisou atender uma aluna com dificuldades na série.
A palavra não foi dita nenhuma vez, mas não era preciso muita imaginação para saber que o "tomar" se referia ao consumo de anabolizantes. Afinal, que outra coisa poderia ser usada para ficar "grandão" em apenas três semanas? As "bombas", como se diz popularmente, são versões sintéticas dos hormônios esteróides anabólico- androgênicos, criadas com finalidades médicas específicas, que fazem artificialmente o que os hormônios masculinos fazem de maneira natural e fisiológica em nosso corpo: aumentam a síntese protéica, a oxigenação e a produção de energia. O efeito global é um aumento na capacidade e na velocidade do organismo de produzir músculos, que atrai uma legião de pessoas saudáveis, com preocupações esportivas ou, principalmente, estéticas. Para essa gente, anabolizantes são uma fórmula mágica, capaz de trazer resultados notáveis em pouco tempo.
Mas a "mágica" tem seu preço. Da mesma forma que a explosão de uma bomba de verdade tem um efeito indiscriminado, atingindo inimigos e civis indefesos, os anabolizantes também não agem apenas sobre os músculos. "Eles causam alterações no metabolismo que podem trazer conseqüências sérias para a saúde", explica Paulo Zogaib, fisiologista da Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores especialistas sobre o tema no Brasil. São essas alterações que muitos ignoram, especialmente os iniciantes.
Ansiosos por desempenho e um corpo idealizado, muitos atletas, fisiculturistas e praticantes de musculação aderem a essas drogas sem noção do perigo ou subestimando riscos. É por isso que a Men's Health decidiu investigar o assunto. Porque, como você verá até o final desta reportagem, existem muito mais coelhos do que se imagina dentro dessa cartola. E poucos são bonitinhos como os de shows de mágica.
QUEM USA
Conversas como a que relatamos na página anterior não são comuns. Geralmente, usuários de anabolizantes são discretos como os de remédios para impotência. Ninguém quer admitir que existe uma droga por trás da sua força. Embora bastante gente recorra ao atalho. Ano passado, pesquisadores na Universidade Federal da Bahia realizaram o maior estudo feito no país para quanti( car esse consumo. Foram 1 200 questionários com freqüentadores de academias, de 15 a 35 anos, de todas as classes sociais e bairros da região metropolitana de Salvador. Men's Health teve acesso exclusivo a dados preliminares da pesquisa, que será publicada este ano. "15% relataram já ter usado anabolizantes pelo menos uma vez na vida. Entre os homens, esse número cresce para 21%", revela o antropólogo Jorge Alberto Iriart, um dos autores. É alarmante: de cada cinco homens malhando em academias, pelo menos um já usou a droga.
Embora não se possa comprovar cientificamente que o consumo está aumentando, quem freqüenta o meio garante que sim. "Há uns 15 anos, eu via as pessoas tomarem, mas era coisa de quem malhava havia muito tempo e praticava ( siculturismo. Eu mesmo comecei a usar depois de mais de oito anos de treino. Hoje a molecada já chega na academia querendo tomar", diz Dico, que usa anabolizantes há dez anos e trabalha como segurança e professor de musculação em academias na região de Itaquera, Zona Leste de São Paulo.
Segundo a pesquisa de Iriart, o consumoé mais acentuado em pessoas com menor escolaridade e renda, mas está disseminado em todas as classes sociais. Para o personal trainer e ex-fisiculturista Fábio Veras, de Brasília, o perfil mais comum é o de jovens de 18 a 25 anos, com dificuldades para ganhar peso e massa muscular. "É o magrinho, que quer ficar forte e não tem paciência." Entre os fisiculturistas profissionais, o consumo é regra, pois os campeonatos não punem doping. "Se fizer teste, ninguém participa", diz Veras.
Nos Estados Unidos, onde o assuntoé pesquisado há anos, estima-se que mais de 1 milhão de pessoas já usaram anabolizantes alguma vez na vida. O hábito começa cedo. Segundo pesquisa de 2006, 2,7% dos jovens americanos tomaram anabolizantes entre 17 e 20 anos. Não é à toa que lá o consumo dessas drogas é tratado com o mesmo rigor que a cocaína e o ecstasy pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, patrocinador da pesquisa e orientador de políticas públicas contra uso de drogas. Outro estudo de 2006 apontou que 78% dos usuários de anabolizantes não participam de nenhuma atividade esportiva competitiva. Ou seja, a maioria toma com ( ns estéticos. No Brasil não é diferente.
POR QUE SE USA
"A motivação é quase sempre estética. As pessoas desejam ter um corpo perfeito, como se isso existisse", explica Iriart, que também realizou 40 entrevistas qualitativas para entender melhor as características do consumo. A preocupação com a beleza também explica a sazonalidade do consumo, semelhante à dos regimes de emagrecimento entre as mulheres. "Com a chegada das festas de verão e o Carnaval, o consumo dispara", diz o antropólogo, mostrando que o interesse revelado na conversa lá do início não é um caso isolado. Alguns dos exemplos de uso de anabolizantes vêm de atores de Hollywood. Com 23 anos, o ator Arnold Schwarzenegger tornou-se o mais jovem campeão mundial de ( siculturismo. Depois de ganhar o título seis vezes, começou no cinema. Compensava a falta de dotes artísticos com sua montanha de músculos. Numa cena de Conan, o Bárbaro, um camelo cuspia em seu peito, e ele não conseguia se limpar porque o tamanho do bíceps não deixava. Depois de eleito governador da Califórnia, admitiu ter usado anabolizantes por muitos anos, quando o uso não era controlado (veja box).
LEGAL E FISIOLÓGICO
Anabolizantes têm aplicações na medicina, mas só em baixas doses
Antes de se tornarem um atalho para o ganho de massa muscular, os anabolizantes foram descobertos e desenvolvidos com fi nalidades médicas, e até hoje são indicados para alguns pacientes. Neste caso, no entanto, as doses são baixas para garantir o mínimo de efeitos colaterais. Veja as principais indicações.
>> Aumentar a massa muscular de pacientes com perda de peso crônica em tratamentos especialmente de aids ou câncer.
>> Induzir a puberdade em adolescentes com retardo no processo de amadurecimento sexual.
>> Reduzir os efeitos negativos da queda natural de hormônios masculinos em homens de meiaidade e idosos, como perda excessiva de massa muscular e redução da libido.
>> Estimular o crescimento em crianças com problemas hormonais ou neuromusculares congênitos.

Sylvester Stallone, outro paradigma de ator musculoso, foi detido com 48 ampolas de hormônio do crescimento quando chegou à Austrália em março de 2007 para divulgar Rocky Balboa. A substância é um anabolizante menos potente que os esteróides, geralmente usado para diminuir os efeitos do envelhecimento e melhorar a relação entre músculos e gordura. No , lme, Stallone interpreta um velho boxeador que sua para manter a forma e provar que ainda pode lutar. Na real, o ator de 60 anos apela para o reforço químico.
Mesmo nas academias, a comparação com professores e colegas bombados estimula o uso. "O cara vê alguém que começou a malhar na mesma época crescer mais que ele e resolve tomar", explica Dico, revelando que o uso de anabolizantes aumentou, sim, sua facilidade para conseguir emprego como professor de academia ou como segurança. "O pessoal respeita muito mais", diz ele, que hoje tem 35 anos, 1,75 metro, 106 quilos e 52 centímetros de braço. A experiência pessoal de Dico também foi percebida na pesquisa de Iriart. "Para muitas pessoas, o uso de anabolizantes representa ascensão social ou profissional. Uns buscam empregos onde força e aparência física são importantes; outros, a admiração das mulheres e a satisfação de ter um corpo que representa o sucesso", diz.
DE SOLUÇÃO A PROBLEMA
Uso de anabolizantes esteróides começou entre médicos e seguiu para as competições olímpicas
>> A testosterona foi sintetizada pela primeira vez em 1936, pelo químico suíço Leopold Ruzicka, em colaboração com o laboratório Ciba. O objetivo era ter uma substância pura para a pesquisa da fi siologia humana e suas possíveis aplicações médicas. Investigações desse tipo foram feitas também em campos de concentração alemães.
>> No meio esportivo, a droga apareceu no Mundial de Levantamento de Peso de 1954, em Viena. O campeão geral foi um americano, mas os soviéticos mostraram larga vantagem no resultado geral, despertando a curiosidade do médico da delegação americana John Ziegler. De volta aos Estados Unidos, ele passou a pesquisar uma substância para seus atletas. A droga, primeiro anabolizante esteróide sintético, foi lançada em 1958, em parceria com o Ciba, com o nome de Dianabol.
>> Nos anos 60, como seu uso não sofria restrições, ele se disseminou no esporte. Em 1967, o Comitê Olímpico Internacional começou a proibir o uso de determinadas substâncias, mas só em 1976 os anabolizantes esteróides entraram na lista negra.

O princípio de todas as substâncias que você conhece como anabolizantes ou "bombas" é imitar a ação da boa e velha testosterona, o famoso hormônio masculino. Ela é um hormônio que produzimos naturalmente, nos testículos (ou ovários, nas mulheres) e nas glândulas supra-renais, classifi cado como esteróide anabolizante androgênico. Esteróide porque deriva do colesterol, anabolizante porque aumenta a atividade celular e androgênico porque acentua características masculinas, como a força e a agressividade. Veja neste infográfi co como ela funciona e o que as drogas que a imitam fazem no seu corpo.
1- O CRESCIMENTO DO MÚSCULO
O principal componente de nossos músculos são fibras de proteínas. Quando eles trabalham, essas proteínas se quebram. No repouso, o corpo trabalha para reconstruí-las. A cada ciclo de "quebra e reforma" do treinamento, a grossura das fi bras aumenta e, com elas, o volume geral do músculo também cresce.
2- O ANABOLISMO NATURAL
A fabricação de proteínas no músculo é naturalmente estimulada pela testosterona, quando ela se encaixa em receptores androgênicos na membrana da célula muscular. Essa ligação é específi ca, como uma chave em sua fechadura, e emite um sinal para a célula produzir mais proteína, acelerando a fabricação de músculo.
3- O ANABOLISMO ARTIFICIAL
Os anabolizantes sintéticos são substâncias parecidas com a testosterona, o sufi ciente para se encaixarem na fechadura da testosterona e dispararem o mesmo processo nas células. Para a célula muscular, o efeito é o mesmo.
4- SUPRIMENTOS
Para trabalhar mais, as células precisam de mais oxigênio, energia e estímulo. Isso é garantido por um efeito secundário da testosterona em outros tecidos, também "anabolizados". A medula óssea produz mais hemácias (mais oxigênio), as células musculares, mais mitocôndrias (mais energia) e as nervosas mais mielina ao redor dos axônios (impulso nervoso mais rápido).
5- DESEQUILÍBRIO HORMONAL
Quando se injeta um hormônio anabolizante no corpo, o organismo percebe o excedente e diminui a produção interna. Sem trabalhar, as glândulas do testículo atrofi am e diminuem, levando à esterilidade. Dependendo do hormônio usado, o excesso também pode virar estrogênio, o hormônio feminino, e aumentar o tamanho das mamas.
6- LIMPEZA CARA
Os hormônios esteróides, naturais ou sintéticos, são metabolizados pelo fígado para serem eliminados do organismo. As doses extras de hormônio sobrecarregam o fígado e aumentam a incidência de problemas hepáticos, inclusive de câncer.
ENQUANTO O MÚSCULO CRESCE...
O resto do seu corpo sofre com diversos efeitos colaterais, todos derivados da desorganização hormonal que a entrada dos anabolizantes causa no organismo

EFEITO
PARECIMENTO DO SINTOMA TEM VOLTA? COMO OCORRE O PROCESSO
Inibição da produção de testosterona Imediato Reversível Nosso corpo mantém um fi no equilíbrio na proporção de hormônios em ação. Quando a concentração de um deles passa do limite, sua produção pára. É isso que acontece com a testosterona quando o corpo percebe a presença dos anabolizantes.
Esterilidade 2 a 3 meses Reversível A principal glândula produtora de testosterona no homem é o testículo. Sem ter de produzir testosterona, ele se atrofi a. A longo prazo, ele fica tão pequeno que sua outra função também fi ca comprometida: produzir espermatozóides. A contagem deles cai drasticamente e o homem fi ca temporariamente estéril.
Problemas hepáticos Imediato ou a longo prazo Variado Uma dose muito alta de anabolizante pode causar uma intoxicação aguda do fígado. O cara morre na hora, de insufi ciência hepática. O uso moderado, ao longo de anos,é como o alcoolismo: destrói lentamente o fígado, até virar uma cirrose. A chance de um câncer hepático também aumenta entre usuários de anabolizantes.
Colesterol Alto 2 a 3 meses Reversível Anabolizantes aumentam o colesterol ruim (LDL) e diminuem o bom (HDL). Quando o sujeito pára de usar a droga, os níveis voltam ao normal. Mas, enquanto eles estão ruins, as artérias acumulam placas que podem levar a um problema cardiovascular no futuro.
Ginecomastia 2 a 3 meses Irreversível O nome é estranho e a situação mais bizarra ainda: os peitos crescem como se fossem de mulher. Alguns anabolizantes são convertidos em progesterona, o hormônio feminino, quando estão em excesso e causam o fenômeno. Depois que ele cresce, só se resolve com cirurgia.
Acne 2 a 3 meses Reversível Pode aparecer em maior ou menor intensidade de acordo com vários fatores genéticos e comportamentais individuais. Mas os anabolizantes estimulam a atividade das glândulas sebáceas, aumentando a chance de elas entupirem e causarem espinhas.
Agressividade Imediato Reversível É um efeito direto da ação androgênica dos anabolizantes. Muitos atletas canalizam essa agressividade para o treinamento, transformando-a em estímulo. O problema é que, ao parar de usá-la, perdem a motivação natural. Por isso esse é um dos mecanismos que levam à dependência.
Calvície 2 a 3 meses Irreversível O uso regular de anabolizantes destrói o folículo piloso, que produz o fi o de cabelo. Isso ocorre mais em pessoas que já têm uma predisposição genética para a calvície.
Problemas de crescimento

2 a 3 meses Irreversível Adolescentes que não completaram a fase de crescimento e começam a tomar anabolizantes têm grandes chances de interromper o processo prematuramente. Algumas substâncias interrompem o prolongamento dos ossos, típico desse período.
Masculinização 2 a 3 meses Variado Mulheres que tomam anabolizantes se masculinizam em vários aspectos. A voz engrossa, a quantidade de pêlos aumenta e o clitóris aumenta de tamanho e não significa mais prazer. Esses três processos são irreversíveis.

O QUE SE USA
Quem decide partir para o tortuoso caminho dos anabolizantes tem duas maneiras de descobrir o que e como tomar - e como conseguir a droga. Um é o próprio ambiente de malhação, com os veteranos. O outro é a internet. Os dois casos são uma arapuca. As substâncias mais populares são o Durateston, o Stradon P e o Deca-Durabolin, famoso como "deca" ou "bola". São remédios vendidos de forma controlada nas farmácias, com indicações médicas específicas (veja box). Cada ampola custa no mercado negro cerca de 20 reais, e um ciclo de uso requer em média 20 aplicações para ter o resultado esperado. Usuários com menos poder aquisitivo usam até mesmo substâncias de uso veterinário, como o ADE e o Potenai, que nem mesmo são anabolizantes, mas sim complexos vitamínicos que aumentam o volume do músculo pelo simples acúmulo de líquido nos tecidos.
Os esteróides mais comuns são drogas injetáveis, razão pela qual também podem representar o perigo de contaminação por doenças infecciosas como hepatite e aids, se houver compartilhamento de agulha. As drogas são administradas no músculo para evitar a sobrecarga que uma injeção venosa pode causar no fígado. Mas também existem anabolizantes em comprimidos, menos procurados porque são parcialmente destruídos pelas enzimas hepáticas durante o processo digestivo.
O consumo é feito em ciclos, intercalando um período de uso com um período de recuperação. Injeta-se de uma a quatro ampolas semanais durante três a seis meses ou faz-se uma aplicação em pirâmide, aumentando e diminuindo a dose progressivamente ao longo do ciclo. Quanto maior a freqüência e o período de consumo, maior o efeito sobre os músculos - e, conseqüentemente, o perigo de efeitos colaterais a curto e longo prazo.
TRÁFICO DE BOMBA
Anabolizantes entram no país pela fronteira com o Paraguai e são vendidos na internet
Os anabolizantes vendidos ilegalmente no país também vêm do vizinho Paraguai. O contrabando de anabolizantes é feito em pequenas quantidades, geralmente por professores de musculação, pessoas ligadas a academias e ao meio esportivo, segundo o delegado Renato Lima, da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, onde é feita a maioria das apreensões. "A 200 metros da fronteira com o Brasil, tem pelo menos 10 farmácias onde se compram essas substâncias sem qualquer controle", diz Lima. Os contrabandistas entram no país pela Ponte da Amizade, que liga os dois países, a pé ou de automóvel. Eles podem ser fl agrados na revista do controle aduaneiro. "Mas é humanamente impossível verifi car todo mundo, com um trânsito diário de mais de mil pessoas", diz o delegado. Segundo a assessoria da PF em Brasília, não existem estatísticas nacionais sobre contrabando de anabolizantes, mas só em Foz do Iguaçu foram apreendidos 3 624 ampolas, cartelas e frascos dessas substâncias em 2007. O número aumentou 730% em relação a 2006, um crescimento 3,5 vezes superior ao da apreensão de medicamentos em geral.
"Uma vez no Brasil, os anabolizantes são oferecidos em salas de bate-papo e sites internacionais, para evitar a identifi cação do vendedor", diz o delegado Carlos Eduardo Sobral, da Unidade de Crimes Cibernéticos da PF, responsável pela Operação Placebo, realizada em 2007. "O pagamentoé feito por depósito bancário e a entrega pelo correio."
A ação contra o comércio ilegal de medicamentos pela internet prendeu pessoas que vendiam anabolizantes em São Paulo, Brasília e Santa Catarina. Não existe pena para quem compra anabolizantes sem receita. Para o contrabando, a pena é de 1 a 4 anos de prisão. Venda ilegal, de 10 a 15 anos.


QUAIS OS PERIGOS
A lista de perigos que um usuário de anabolizantes corre não está restrita aos efeitos colaterais causados pelo consumo regular dessas substâncias, que já não são poucos (veja box). O primeiro, e provavelmente o maior deles,é conseqüência do mercado negro. Embora os anabolizantes esteróides sejam vendidos em farmácias, quem usa essas drogas com finalidade estética não recorre a esse canal. De acordo com uma resolução da Vigilância Sanitária, de 1998, os esteróides anabolizantes só podem ser vendidos com prescrição médica e, neste caso, os farmacêuticos são extremamente criteriosos, porque as receitas precisam ser retidas e as vendas reportadas em relatórios mensais. Resta aos usuários a opção de produtos contrabandeados.
Mesmo quando o contato é obtido na academia, o pedido e a entrega nunca são feitos ali, para não chamar atenção. E como se trata de um mercado negro, no entanto, não existe nenhuma garantia de que a substância vendida corresponde ao rótulo. As substâncias famosas são as principais vítimas de falsificação, feitas em laboratórios clandestinos ou mesmo em farmácias de manipulação. "O perigo é maior, porque essas coisas podem ser substâncias mais perigosas que os anabolizantes", alerta Zogaib.
Mesmo quando conseguem as substâncias certas, os usuários ainda correm o risco de não saber como usá-las. Tanto os ensinamentos passados por veteranos como as fontes na internet não são confiáveis."O conhecimento deles é baseado em tentativa e erro. Só que cada corpo reage de uma forma diferente, e o que deu certo para um pode dar errado para outro. E as fontes na internet costumam exagerar os benefícios e mascarar os efeitos colaterais", explica Iriart.
Nas páginas de internet, por exemplo, é comum encontrar dicas para minimizar os efeitos colaterais. Uma das mais comunsé o consumo concomitante de vitaminas do complexo B, que os usuários acreditam proteger o fígado. "Elas não protegem nada. O que fazem é compensar a perda dessas vitaminas, normalmente produzidas pelo fígado. Mas, como os anabolizantes destroem as células hepáticas, a concentração delas cai", explica Zogaib.
Em busca de resultados mais rápidos, alguns iniciantes tomam doses ainda maiores que as indicadas pelos colegas. É assim que surgem casos de morte, como o de Jackson de Souza, de 21 anos. Ele morreu depois de injetar 30 mililitros de uma mistura de Deca-Durabolin e ADE em cada braço. Um amigo de Souza, de 15 anos, entrou em coma e outros quatro chegaram a ser hospitalizados, depois de tomarem doses menores da mesma mistura.
Outro perigo é a dependência. "Quando você pára, perde parte da massa muscular e acha que está fraco, apesar de bastante forte. Aí ele volta a tomar e entra num ciclo vicioso", diz Iriart.
Há quem defenda que o uso pode ser seguro. "Se a comunidade médica não fechasse os olhos para isso, as pessoas poderiam tomar com menos riscos", diz Fábio Veras. O problema é que, com hormônios, doses seguras não trariam o efeito anabólico que as pessoas buscam. "Nenhum médico vai receitar remédio para alguém saudável numa concentração que representa tanto risco de efeitos colaterais", explica Zogaib.
O seguro é seguir um regime adequado de treino e dieta. E ter a cabeça no lugar. "É preciso ser mais crítico em relação à idéia de um corpo ideal", diz Iriart. Afinal, saúde é muito mais uma questão de sentir-se bem do que de parecer bem.
AS ÚLTIMAS PESQUISAS GARANTEM QUE...
...sim, anabolizantes vão mesmo detonar sua saúde
A memória vai para o espaço
O uso de anabolizantes pode prejudicar a memória, segundo estudo com ratos na Universidade de Thessaloniki, na Grécia. O grupo que usou nandrolona diariamente por seis semanas demorou muito mais para reconhecer outros ratos num teste olfativo. A coisa vicia
Estudos sobre dependência em anabolizantes da Universidade do Sul da Califórnia demonstraram que ratos também se viciam nessas drogas. A dependência em esteróides pode ter causa bioquímica, além de psicológica, diz o estudo. Pode dar hipotireoidismo
Pesquisadores do Instituto de Biofísica da UFRJ compararam estudos sobre anabolizantes e seu efeito nas glândulas tireóides. Na maioria das pesquisas com humanos, anabolizante em altas doses levou ao hipotireoidismo, doença que dá sonolência

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