Mas o termo alimento funcional surgiu no Japão, somente por volta de 1980, quando o governo japonês iniciou um programa de redução de custos de seguro saúde. Para diminuir as despesas com medicamentos, foi implantado um programa denominado Foshu (comida para uso específico de saúde, na sigla em inglês), que consistia em avaliar quais alimentos teriam benefícios comprovados à saúde da população, cumprindo funções específicas no organismo.
Uva Cenoura
Componentes: flavonóides, fibras, cálcio e reverastol (presente no vinho tinto também e que possui propriedades anticancerígena e protetora do coração).
Propriedades: anticoagulante, anticancerígena, reduz o colesterol e antioxidante. Sugere-se a ingestão de 240 ml de vinho tinto e de 240 a 480 ml de suco de uva, ou um cacho da fruta por dia. Componentes: uma das melhores fontes de betacaroteno. Pode ser convertido em vitamina A, vitamina C e ferro.
Propriedades: fortalece o sistema imunológico. Recomenda-se o consumo de 100 gramas por dia (ralada ou cozida).
Alho Brócoli
Componentes: alicina, vitamina C, Selênio e Zinco. Propriedades: estudos demonstraram que o consumo regular de alho fortalece o sistema imunológico e reduz a incidência de tumores de estômago e cólon. O alho também atua na prevenção de doenças cardiovasculares, reduzindo a taxa de LDL (colesterol ruim) do sangue e possui ação reguladora da pressão arterial. Recentemente descobriram-se propriedades antibióticas no alho, o que auxilia no combate à H. pylori (bactéria que causa gastrite). Recomenda-se o consumo diário de um dente (cerca de 600 mg), para a redução da pressão arterial e dos níveis de colesterol. Componentes: glicosinato, um potente anticancerígeno, estimula os genes que aumentam a produção de glutationa (antioxidante que auxilia o fortalecimento do sistema imunológico), proteínas, cálcio, vitamina C e ferro. Propriedades: age no organismo como antiinflamatório, antibiótico, anticoagulante e analgésico. Além disso, combate viroses, protege o fígado, reduz o colesterol, combate a dor muscular; diminui a pressão arterial e previne o câncer. Assim como outros alimentos da mesma família das crucíferas (como couve-flor), o brócolis previne várias formas de câncer, incluindo os de estômago, esôfago, pulmão, faringe, útero, pâncreas e cólon. Recomenda-se o consumo de 100 gramas por dia.
Entre elas, a melhoria dos mecanismos de defesa imunológicos, prevenção ou tratamento de alguma doença ou disfunção, melhoria das condições físicas e mentais, do estado geral de saúde e retardamento do processo de envelhecimento orgânico. Nos Estados Unidos, o conceito de alimentos funcionais passou a ser difundido na década de 1990, quando o Instituto Nacional do Câncer desse país deu início ao Programa de Alimentos Projetados, para pesquisar os componentes de alimentos naturais que apresentassem propriedades anticancerígenas. A partir de então, os estudos ganharam impulso em praticamente todo o mundo.
Aveia Tomate
Componentes: fibras insolúveis e solúveis (beta-d-glucanas), fósforo, cálcio e carboidratos. Propriedades: alguns estudos têm demonstrado a diminuição do LDL-colesterol. Há evidências de que as beta-d-glucanas têm efeito protetor no desenvolvimento do câncer de cólon e na diminuição da absorção da glicose em diabéticos. Em 1997, o FDA (Food and Drug Administration) aprovou uma nova regulamentação, permitindo que produtos de aveia integral tragam em seus rótulos apelo de benefício à saúde, relacionando seu consumo à redução do risco de doenças cardíacas. O FDA concluiu que a beta-d-glucana é o componente responsável pela diminuição do colesterol total e LDL no sangue em dietas que contenham cerca de 3 g/dia de beta-d-glucanas (equivalente ao consumo de 40 g de farelo de aveia e 60 g de farinha de aveia). Componentes: rico em licopeno, substância responsável pela coloração vermelha, que possui ação antioxidante e está presente também em outras frutas vermelhas, como melancia, goiaba e mamão papaia. O tomate cru tem alto teor de vitaminas A, B e C.
Propriedades: o efeito antioxidante do licopeno reduz a presença de radicais livres, protegendo as células da oxidação. Estudos demonstraram que alimentos contendo licopeno reduzem o risco de câncer intestinal, estomacal, da bexiga, do colo úterino, da pele e dos pulmões. O licopeno também previne o surgimento de doenças cardiovasculares, em especial aterosclerose, reduzindo o risco de infarto.
Cebola Repolho
Componentes: rica em quercetina (especialmente as roxas), um poderoso antioxidante, um anticancerígeno chamado Alicina, vitaminas A e C e cálcio. Propriedades: ajuda na regulação da pressão e circulação sangüíneas, tem efeito anticoagulante e aumenta o bom colesterol (HDL), que protege o coração. A recomendação de consumo diário é de cerca de 100 gramas, na comida. Componentes: ferro, magnésio, cálcio, vitamina C e sulforafeno (um potente antioxidante). Propriedades: ajuda a prevenir o câncer do aparelho digestivo e reduz o risco do desenvolvimento de outros tumores em até 35%, além de eliminar toxinas do organismo. Recomenda-se o consumo de uma xícara de chá por dia (cozido).
Mais do que comida
Todos esses anos de pesquisa resultaram na descoberta de diversos compostos com importantes propriedades biológicas presentes em alguns alimentos, conforme informam no livro "Alimentos Funcionais - A Nova Revolução", os pesquisadores Alexandre Cabral Craveiro e Afrânio Aragão Craveiro, professores da Universidade Federal do Ceará.
O vilão virou mocinho
Margarinas e leites que diminuem o colesterol e protegem contra problemas cardíacos, iogurtes e bebidas que auxiliam o funcionamento do intestino e produtos a base de soja que ajudam a prevenir osteoporose são alguns dos alimentos industrializados com alegações funcionais existentes no mercado. Também chamados de nutracêuticos, essa é uma categoria de produtos que cresce na mesma proporção que o interesse do consumidor pela prevenção de doenças e longevidade. O mercado mundial de alimentos funcionais movimentou mais de 50 bilhões de dólares em 2004, e em países da Europa e no Japão é possível encontrar de pães a balas com alegações funcionais.
No Brasil, já estão registrados cerca de 130 alimentos dessa categoria. A denominação determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é "alimento com alegação funcional". "Aquele que, comprovadamente, possui um componente que reduz o risco de desenvolvimento de determinada enfermidade", explica Antônia Maria de Aquino, gerente de produtos especiais da Anvisa.
Mas os especialistas alertam que nem sempre vale a pena consumir um produto com alegação funcional. "O grande problema está na concentração dos nutrientes funcionais. O leite com ômega 3, por exemplo, tem uma concentração muito baixa dessa substância, por isso não vale a pena sua ingestão", explica o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Abran.
Além disso, é preciso consumir os alimentos com alegações funcionais da maneira correta e dentro de uma alimentação adequada. "As margarinas enriquecidas com fitoesteróis, por exemplo, destinadas a indivíduos com colesterol alto, precisam ser consumidas diariamente, sempre na quantidade determinada, para auxiliar na redução da absorção de colesterol. Também é preciso reduzir o consumo de gordura saturada e colesterol", explica a nutricionista Kátia Iared, do Serviço de Nutrição e Dietética do Incor. Ela ressalta que muitas frutas, legumes e verduras possuem benefícios comprovados à saúde. "Os alimentos in natura são mais gostosos, baratos e certamente funcionam mais, pois não foram manipulados", completa a nutricionista Cynthia Antonaccio.
Entre as principais substâncias citadas estão os óleos e outros componentes bioativos de origem marinha ricos em ácidos graxos poliinsaturados, conhecidos pela denominação genérica ômega 3. Essas substâncias, encontradas em alguns tipos de peixes, são essenciais à manutenção da saúde, porém não são produzidas pelo nosso organismo e só podem ser obtidas por meio da alimentação. A lista de benefícios atribuídos aos ácidos do tipo ômega 3 não pára de crescer: diminuem os riscos de doenças cardíacas (pois reduzem o triglicérides e a pressão arterial, além de auxiliar na elasticidade das artérias, impedindo sua obstrução), são agentes antiinflamatórios (previnem problemas como asma, artrite e dores de cabeça), mantém a visão saudável, entre outros.
Peixes Abacate
Componentes: maior fonte natural de ômega 3, ferro, selênio e cálcio. Propriedades: aumenta o colesterol bom (HDL), auxilia na redução de doenças cardiovasculares, auxilia na formação do feto durante a gestação e melhora a atuação da insulina no organismo. Recomenda-se o consumo de pelo menos 180 gramas por semana, para a redução de problemas cardiovasculares. Componentes: ácido graxo monoinsaturado (ômega 9), potássio, vitamina E e proteínas Propriedades: aumenta o bom colesterol (HDL), protege contra doenças cardiovasculares e contra o câncer. Recomenda-se o consumo de 100 gramas por dia.
Castanha Espinafre
Componentes: ômega 6, ácidos graxos poliinsaturados, cálcio, vitamina C, ferro e antioxidantes (na castanha-do-Pará). Propriedades: auxilia na prevenção de problemas cardíacos. Indica-se o consumo de uma castanha-do-pará ou três amêndoas por dia. Componentes: ácido fólico, vitaminas A e C, cálcio, potássio, ferro e outros antioxidantes. Propriedades: previne defeitos da má formação fetal. Como possui ácido oxálico (que pode ser tóxico), não deve ser ingerido em exagero. O recomendável é a ingestão de uma xícara de chá por dia (cozido). .
Outro grupo de substâncias funcionais que vem ganhando destaque são os carotenóides, pigmentos responsáveis pelas cores alaranjadas de alguns vegetais. Fazem parte dessa categoria o betacaroteno (presente na cenoura, por exemplo), que quando ingerido transforma-se em vitamina A. Outros, como o licopeno (presente no tomate, por exemplo) agem no organismo como antioxidantes, evitando a degradação das células. Algumas pesquisas também sugerem a participação do licopeno na prevenção e controle do câncer de próstata. Os flavonóides, substâncias presentes em algumas frutas e vegetais e responsáveis pelas cores vermelha, roxa e amarela, também se destacam por suas propriedades antioxidantes. Alguns flavonóides têm ações específicas, como as isoflavonas presentes na soja, cuja redução no risco de doenças cardíacas foi reconhecida pela Agência que controla o uso de medicamentos e alimentos nos EUA, o FDA.
Soja Maçã
Componentes: mais importante fonte de isoflavonóides, em especial as isoflavonas, genisteína e daidzeína, empregadas como alternativa na terapia de reposição hormonal. Também contém vitamina B, ácido fólico, iodo, magnésio, potássio e fósforo. Propriedades: previne e reduz risco de câncer e osteoporose, atenua os sintomas da menopausa e doenças cardiovasculares. Estudos epidemiológicos mostraram que indivíduos ou populações, que ingerem soja regularmente possuem menor incidência de tumores malignos. Seu consumo regular reduz o risco de câncer da próstata e de mama em 50%, e o de câncer de cólon em 40%. Para os grãos, a quantidade de consumo diário recomendada é de 1 xícara, para o tofu, 1 fatia de 30 gramas, e para o leite, dois copos por dia (dentro de uma dieta balanceada). Componentes: fonte de fibras solúveis que auxiliam no controle glicêmico, cálcio, flavonóides, pectina (que auxilia o funcionamento do intestino) e quercetina, um bioflavonóide com propriedades antiinflamatórias, além de proteger o coração, possuir atividade anticâncer, antiúlcera, antialérgica, e ajudar na diminuição do risco de desenvolver catarata. Propriedades: a combinação dos fitoquímicos presentes na casca e polpa da maçã é responsável por suas propriedades antioxidantes e anticancerígenas. A ingestão regular de maçã também ajuda a reduzir as taxas do colesterol prejudicial (LDL) ao organismo, prevenindo problemas cardíacos. Recomenda-se o consumo de uma por dia.
Sem mágicas
Mas como fazer para se beneficiar das propriedades dos alimentos funcionais? Nesse caso, mais uma vez vale a boa e velha recomendação da dieta equilibrada. Não é preciso exagerar e só comer isso. "Todos esses alimentos devem fazer parte de uma rotina alimentar, na medida do possível, mas não dá para comer abacate, ou linhaça todos os dias", exemplifica o nutrólogo Durval Ribas, presidente da Abran. Mas também não adianta se animar e achar que basta comer um tomate, uma porção de soja ou qualquer um dos alimentos com propriedades funcionais no meio de frituras, doces e outras tranqueiras do gênero para se beneficiar. "As pessoas devem estar cientes de que tais alimentos não são mágicos, eles não corrigirão maus hábitos alimentares. Devem fazer parte de uma alimentação equilibrada, assim como praticar atividade física regularmente, evitar o fumo, reduzir o estresse e manter peso saudável", alerta a nutricionista Kátia Iared, do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração [INCOR]
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