Esse ingrediente também regula o funcionamento do intestino e protege o coração
Em um passado distante, imagine só, a berinjela foi acusada de provocar demência e epilepsia. Aos poucos, derrubou mitos e conquistou algumas das principais cozinhas do mundo, como a italiana, a francesa e a árabe. Hoje, completamente reabilitada em matéria de nutrição, ela caiu no gosto dos pesquisadores, atentos às suas propriedades funcionais. Nesse cenário, um novo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) constatou que sua farinha, um produto ainda pouco comum no mercado, proporciona diversas vantagens à saúde, além de combater aquela barriguinha indesejada.
Ao longo de 60 dias, os investigadores cariocas acompanharam 14 voluntárias acima do peso. Todas foram orientadas a seguir uma dieta. “Mas, no grupo que consumiu a farinha de berinjela, observamos uma maior diminuição da circunferência do abdômen, com a redução da gordura visceral, que está associada ao diabete tipo 2 e a doenças cardiovasculares”, conta a nutricionista Glorimar Rosa, coordenadora do trabalho. Essas participantes ingeriram 2 colheres de sopa do preparo duas vezes ao dia, de manhã e à noite ou durante as principais refeições.
O produto ainda foi capaz de derrubar os níveis de colesterol ruim, triglicérides e, inclusive, ácido úrico, substância que, além da conta, favorece inflamações e dores articulares. “Diferentemente do chá e do suco de berinjela, que não se mostraram eficientes para baixar o colesterol durante os testes, a farinha apresentou bons resultados em função de sua maior concentração de fibras”, afirma a pesquisadora. “Acreditamos que sua grande vantagem é o alto teor dos tipos solúveis, que limitam a concentração de gordura no sangue e ainda promovem saciedade”, aponta Glorimar.
Como o legume é rico em água, 1 quilo do fruto fresco rende apenas 100 gramas da farinha. Em comparação à sua matéria-prima propriamente dita, o produto talvez só peque pela perda de algumas vitaminas e de seu poder antioxidante. De acordo com a nutricionista Priscila Meirelles, de São Paulo, a berinjela é rica em vitaminas A, do complexo B e C, sais minerais, como cálcio, fósforo e ferro, e flavonoides, compostos antioxidantes presentes na casca que ajudam a afastar doenças como o câncer. Tem mais: é praticamente livre de gorduras.
Apesar de a farinha carregar uma maior concentração de sódio, essa quantidade ainda é bem mais baixa do que a oferecida por qualquer pacote de salgadinhos. Assim, ela está liberada para hipertensos. “A única ressalva é o fato de que, após a ingestão da farinha, há um aumento na formação de radicais livres”, nota Glorimar Rosa. “Por esse motivo, recomendamos consumir, logo depois, uma fruta cítrica, rica em vitamina C”, orienta. Isso porque o nutriente das laranjas e companhia é antioxidante e neutralizaria esse efeito, digamos, colateral.
Mudanças radicais
Ao ingerir a farinha com iogurte desnatado de manhã e à noite, além de caminhar e manter uma dieta de baixa caloria, a auxiliar administrativa Daise de Menezes Vieira, de 51 anos, perdeu 10 quilos depois dos dois meses em que participou do estudo na UFRJ. “Além de emagrecer, comecei a me sentir mais disposta. O intestino passou a funcionar direito e até recebi vários elogios”, conta. Para sua colega de experimento, a corretora Rosângela Ferreira Cardozo, de 50 anos, o número do manequim diminuiu com a eliminação de quase 8 quilos. Além disso, a farinha de berinjela a ajudou a controlar sua compulsão por guloseimas. “Era o meu ponto fraco nas dietas, porque beliscava doces o tempo inteiro”, diz.
Segundo Rosângela, mesmo quem faz cara feia para a berinjela pode provar a farinha sem medo. Ela não tem sabor acentuado e, no aspecto, lembra a farinha de mandioca. Embora já seja produzida industrialmente, é possível prepará-la em casa, de forma semelhante à de um tomate seco. Basta desidratar o fruto no forno a 200 graus por duas horas e, em seguida, bater tudo no liquidificador ou no processador. Ao comprar a berinjela, selecione os exemplares com casca lisa e brilhante, sem manchas amarronzadas. A farinha obtida tem o prazo de validade de um ano quando bem armazenada e afastada da luz. Se preferir o produto pronto, você encontra no mercado potes de 100 gramas.
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