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domingo, 16 de maio de 2010

Olho vivo como a diabetes infantil

O que era considerado doença de adulto se transformou num problema comum entre as crianças: a diabetes tipo 2. A causa é o aumento da obesidade entre os pequenos - aliada à vida sedentária. A boa notícia é que é possível ajudá-los a viver com saúde




Gabriela tinha 12 anos, 1,56 m de altura e 84 kg quando começou a sentir fome exagera- da, fraqueza, passou a tomar muita água e a urinar demasiadamente, além de apresentar manchas escuras na pele do pescoço e nas axilas. O diagnóstico: diabetes do tipo 2, uma doença que há 20 anos atingia somente adultos acima de 40 anos. A situação dela não é um caso atípico. A incidência da doença tem crescido entre crianças e adolescentes. No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas nos Estados Unidos, por exemplo, os dados indicam que 33% dos novos casos de diabetes, na faixa de 10 a 19 anos, são do tipo 2.

O presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad), Fadlo Fraige Filho, de São Paulo, revela que esse mal responde por 30 em cada 100 casos de diabetes em adolescentes norte-americanos, com maior incidência entre 10 e 15 anos. Ele explica que, nessa fase, é mais comum o diabetes do tipo 1, de origem genética. Porém o tipo 2 - que responde por 90% dos casos da doença - está se propagando em índices elevados, pois depende, além da genética, de outros fatores como a obesidade, o sedentarismo e a fadiga, problemas freqüentes entre a juventude brasileira.

O grande vilão desse aumento significativo são os hábitos pouco saudáveis, como o de assistir à tevê e jogar videogame, consumir guloseimas nada saudáveis e muito calóricas e manter uma alimentação baseada em fast food. Mas é preciso estar atento a outros inimigos, como a merenda escolar.

Mudança de hábitos

Foi-se o tempo em que criança gordinha era sinal de saúde. Atualmente, o excesso de peso tornou-se um dos grandes males do início do século. A obesidade é considerada uma doença grave, que no Brasil afeta atualmente 13% das mulheres, 7% dos homens e assombrosos 15% das crianças, um número que representa quase 16 milhões. E, pior: oito em cada dez crianças tendem a se tornar obesas quando passarem à fase adulta.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade pode chegar a um grau elevado, capaz de afetar a saúde do indivíduo, além de causar inúmeras complicações. Atualmente, é a segunda causa de morte passível de prevenção, logo depois do tabagismo, alcançando, inclusive, níveis superiores aos da desnutrição e das doenças infecciosas.

Mas como aliar o prazer de comer e de ser criança? Elas, em geral, ganham peso com facilidade por causa de fatores conhecidos e também por influência genética, distúrbios psicológicos e problemas na convivência familiar. É cada vez mais comum encontrar crianças com colesterol alto, hipertensão e diabetes tipo 2. Esses são os principais fatores de risco para sofrer doenças cardíacas.

"Estamos diante de milhões de pessoas obesas no Brasil, e doenças como essa são cada vez mais comuns em crianças e adolescentes. Não há outra saída: ou fazemos prevenção ou não conseguiremos reverter a situação. "Quem faz o alerta é o nutrólogo e pediatra gaúcho Nataniel Viuniski, que é membro da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Brincadeiras infantis

Especialistas revelam que os baixinhos que passam algumas horas vendo televisão ou jogando videogame têm mais tendência a engordar. É que a atividade metabólica fica reduzida, logo, eles não queimam as calorias ingeridas e acabam ganhando peso. "Para a criança, o melhor é andar e pedalar, fazer atividades em que o movimento não force as articulações", aconselha o pediatra.

Os melhores exercícios são caminhar, andar de bicicleta, nadar ou correr
15 minutos de caminhada são suficientes para eliminar 77 calorias (o mesmo que um pão de queijo pequeno).
Pedalar 28 minutos queima o equivalente a uma coxinha, 180 calorias.
Nadar durante 10 minutos consome 106 calorias, ou uma lata de refrigerante.

O mais importante é controlar a ansiedade dos pais, para que não se transformem em fonte de tensão para os filhos que precisam perder peso. "A pressão psicológica sobre a criança pode causar um efeito negativo: ela se frustra e acaba comendo mais e, por pura ansiedade, engorda o dobro. Costumo dizer que o elogio é a gasolina que faz funcionar o motor do emagrecimento", aconselha Viuniski. Segundo ele, o apoio psicológico à família é muito importante porque ajuda a controlar a ansiedade e a mudar os padrões de comportamento, que levam ao aumento de peso dos pequenos.

O inimigo mora ao lado

Fadlo Fraige Filho ressalta que alguns perigos rondam os baixinhos diariamente, como as cantinas escolares. Nesses locais transbordam produtos com alto teor calórico e pobres em nutrientes essenciais. "Hábitos alimentares saudáveis são fundamentais para o adequado desenvolvimento infantil e devem começar na própria escola. Quando se fala de prevenção para crianças em idade escolar, saúde e educação devem andar de mãos dadas. Se a medicina ainda não pode impedir completamente o aparecimento da diabetes, a sociedade pode fazer muito para evitar que os pequenos sintam mais tarde os efeitos da doença", orienta Fraige.

Os fatores negativos são muitos e contam com um cardápio baseado no grande consumo de fast food, salgadinhos e guloseimas. A preocupação é com os elevados níveis de glicose, colesterol, pressão arterial e baixa auto-estima. Crianças acima do peso são discriminadas pelos companheiros e alvo de brincadeiras de mau gosto. Em geral, aquelas que são obesas estão sujeitas ainda à depressão, têm baixo desempenho escolar e apresentam distúrbios de relacionamento.

Conversa de gente grande

As estratégias sugeridas pelos especialistas para conter o avanço descontrolado da obesidade e, conseqüentemente, da diabetes, incluem mudanças na legislação, com regulamentação das propagandas de alimentos e a aplicação de normas específicas para cantinas escolares. Esses e outros assuntos foram discutidos durante o 12º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, realizado no mês passado, em São Paulo, SP.

Mudanças de hábitos, reeducação alimentar e prática de atividades físicas são apontadas como soluções para bloquear a ascensão da doença. O médico Márcio Mancini, do Departamento de Endocrinologia do Hospital das Clínicas, (HCFMUSP), de São Paulo, e presidente do congresso, diz que a melhor estratégia é manter o peso. "Isso faz com que um indivíduo geneticamente predisposto adie ou mesmo impeça que a herança familiar atue." Ele lembra ainda que os pais devem ter cuidados desde o nascimento do bebê, privilegiando o aleitamento materno e evitando a alimentação artificial, rica em açúcares desnecessários nessa fase. "Certamente, se as medidas que tomamos para reduzir a epidemia de obesidade infantil não derem ótimos resultados, presenciaremos um número cada vez maior de crianças doentes e com redução na qualidade e na quantidade de vida", alerta Márcio Mancini.

Lancheira do bem


Inspire seu filho a consumir verduras e legumes, apresentando pratos coloridos
Quem deve se preocupar com o que a garotada come na hora do lanche: os pais ou a escola? Certamente os dois. Para garantir refeições saudáveis, o pediatra Nataniel Viuniski destaca:

Prepare cardápios mais atraentes visualmente, como, por exemplo, sanduíches naturais bem decorados, pratos coloridos que incluam legumes e verduras, além de carne e arroz.
A criança diabética tem de entender que não há alimentos proibidos nas suas refeições. O que deve ser feito é o controle da quantidade a ser consumida. Ela precisa também conhecer os nutrientes e saber fazer escolhas saudáveis para a vida inteira.
A dieta adequada é baseada na redução de gorduras saturadas, respeitando os intervalos entre as refeições (em vez de beliscar, fazer pequenos lanches) e restringir moderadamente o número de calorias.
O menu infantil deve se manter o mais próximo possível de um normal, não sendo necessário abolir completamente a ingestão de carboidratos simples.
Porém, sempre que possível, substitua o açúcar das bebidas e sobremesas por adoçante artificial.
Macarrão, arroz, fubá, feijão, milho, batata e cereais matinais devem ser consumidos com restrição.
Evite o uso de achocolatado em pó, prefira adicionar café ao leite.
Prepare separadamente a merenda doce (arroz-doce, canjica, sagu, etc.), optando pela substituição do açúcar pelo adoçante (se possível, ofereça frutas no lugar de guloseimas).
Carnes em geral poderão ser consumidas normalmente, desde que sejam magras, assadas ou grelhadas.
Restrinja o consumo de alimentos muito gordurosos (frituras, salgadinhos, etc.).
Dê preferência a produtos com fibras, como pães e biscoitos integrais, aveia, verduras, frutas, etc.

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