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sábado, 30 de janeiro de 2010

Drunkorexia:o perigo mora no copo

Estimuladas pelo forte desejo de se manterem magras, mulheres de todo o mundo estão substituindo suas refeições pelo consumo do álcool. Saiba mais sobre esse transtorno alimentar que oferece vários riscos à saúde e compromete a beleza





Quem está acompanhando a novela global Viver a Vida já deve ter prestado atenção ao comportamento de Renata (Bárbara Paz). O sonho de se tornar famosa faz da moça uma verdadeira paranoica com a boa forma e a beleza. Sempre preocupada com a imagem, dificilmente ela aparece se alimentando. Seus companheiros fiéis são os drinks, que já a fizeram protagonizar situações pra lá de desagradáveis. E se engana quem pensa que casos assim existem apenas na ficção. Tal comportamento caracteriza um problema cada vez mais presente nos consultórios médicos: a drunkorexia (ou alcoolrexia, em português). "Esses termos, que não existem na linguagem médica oficial, foram criados para denominar a combinação de alcoolismo e anorexia, distúrbio que faz com que a pessoa deixe de se alimentar, temendo o sobrepeso", explica Silvia Brasiliano, psicóloga e coordenadora do Programa de Atenção à Mulher Dependente Química (Promud), do Hospital das Clínicas (SP).

Inimigo disfarçado
Para os especialistas, um dos motivos que favorece o surgimento desse tipo de transtorno é a ditadura da beleza, que impõe padrões estéticos totalmente incompatíveis com a realidade das pessoas. Sendo assim, mulheres com a autoestima mal estruturada - que se importam muito com a opinião alheia e buscam seus objetivos com radicalismo e urgência -, tornam-se alvos fáceis da alcoorexia. A questão que causa mais estranhamento é o motivo (dentre tantas opções, como dietas, medicamentos e atividades físicas) de elas escolherem se aliar ao álcool na busca pelo corpo perfeito. "As bebidas alcoólicas, especialmente os destilados, reduzem um pouco o apetite. Para muitas pessoas, causam até uma certa sensação de enjoo diante da comida", afirma Celso Cukier, nutrólogo do Hospital e Maternidade São Camilo (SP). No entanto, essa não é a única justificativa. Há também quem faça o caminho inverso e deixe a comida de lado para poder desfrutar de alguns goles a mais. "Nesse caso, a paciente adota um sistema de compensação, substituindo as calorias das refeições pelas da bebida que vai ingerir. Assim, não estoura o limite calórico diário que determinou", explica Silvia Brasiliano.


O álcool é armazenado pelo organismo na forma de gordura - que se concentra, principalmente, na região abdominal
Fica claro que, para essas pessoas, o álcool é tido como um aliado do emagrecimento, que pode facilitar (e muito) o processo. A favor dele, muitas pacientes relatam, ainda, que ficam mais calmas depois de algumas doses e, assim, não descontam a sua ansiedade na alimentação. Acontece, porém, que em todas as situações descritas, a fama de bommoço não passa de enganação. Além do risco de tornar-se um vício, o consumo de álcool não funciona no controle da compulsão alimentar decorrente da ansiedade. É verdade que, em um primeiro momento, ele pode até gerar uma sensação de conforto e relaxamento. Mas seu próximo passo é deixar a pessoa angustiada, com um enorme vazio dentro do peito. E muita gente ataca a geladeira para acabar com o mal-estar. Lembra da expressão "o feitiço vira-se contra o próprio feiticeiro"? É bem por aí.

Na contramão da beleza
Se de forma isolada o abuso do álcool e a anorexia já comprometem a saúde, imagine só quando combinados. Isso sem falar que, se o intuito é esbanjar mais beleza e bem-estar, privar o corpo de alimentação (abastecendo-o apenas com bebidas alcoólicas) representa um grande erro.

"O álcool oferece ao corpo um tipo de energia de baixa qualidade, muito similar à do carboidrato de alto índice glicêmico, que favorece o ganho de peso", conta Celso Cukier. Trocando em miúdos, além de não fornecer o combustível necessário para o desempenho das atividades cotidianas, o álcool é armazenado em forma de gordura, especialmente na região abdominal. Mais uma vez ele mostra sua ineficácia na guerra contra a balança.

E os pontos negativos não param por aí. "Diante desse tipo de dieta, o organismo logo denuncia a carência de vitaminas e minerais essenciais para a realização de suas funções vitais. A pele também é prejudicada, pois perde a sua capacidade de renovação e cicatrização", pondera o nutrólogo. Precisa de mais motivos? Então a gente pergunta: quem é que gosta de ficar próximo de alguém que espalha um odor desagradável no ambiente? Ninguém, em sã consciência, não é mesmo? Essa é outra razão para não extrapolar na bebida. O álcool atrapalha o funcionamento do sistema gástrico e, por isso, pode causar mau hálito. A transpiração também ganha um cheiro mais forte. Urgh!

Alerta vermelho!
De acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta Marcelo Niel, colaborador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Proadad), os portadores do distúrbio são, em sua maioria, mulheres solteiras, com idade entre 25 e 35 anos e perfil de alto nível sociocultural e de escolaridade. No entanto, pesquisadores canadenses levantaram que os primeiros sinais da drunkorexia costumam se manifestar ainda na adolescência, por volta dos 15 anos, quando se inicia a vida social de forma mais efetiva. "O problema é que essas pacientes só vão buscar ajuda depois de anos, quando a doença já está no auge", comenta Silvia Brasiliano.

O tratamento deve atuar em duas frentes: a reeducação alimentar, feita com o auxílio de um nutricionista, para ajudar a paciente a adotar uma alimentação mais saudável, e que a leve a construir um corpo correspondente à sua estrutura; e o acompanhamento psicológico, que vai trabalhar a questão do vício e dos anseios que estimulam a adoção de atitudes tão prejudiciais. "O processo é lento, leva em média dois anos", afirma Marcelo Niel.

Infelizmente, o comum é que as pessoas esperem vivenciar alguma situação social vexatória, como desmaiar em público ou vomitar, para só então procurar ajuda. "Se um amigo ou familiar diz que você está exagerando, é bem provável que esteja, mesmo. Para a mulher, a quantidade máxima considerada ideal é de 14 unidades de álcool por semana. Isso equivale, aproximadamente, a sete doses-padrão de destilados", destaca Marcelo Niel. E já é bastante, não? Se puder escolher, vá de vinho tinto. Ele possui substâncias antioxidantes e seu consumo moderado favorece a saúde.

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